sexta-feira, 4 de março de 2016

Liberdade


As pressões constantes geradoras de medo, não raro extrapolam em forma de violência propondo a liberdade.
Sentindo-se coarctado nos movimentos, o animal reage à prisão e debate-se até à exaustão, na tentativa de libertar-se. Da mesma forma, o homem, sofrendo limites, aspira pela amplidão de horizontes e luta pela sua independência.
É perfeitamente normal o empenho do cidadão em favor da sua libertação total, passo esse valioso na conquista de si mesmo. Todavia, pouco esclarecido e vitimado pelas compressões que o alucinam, utiliza-se dos instrumentos da rebeldia, desencadeando lutas e violência para lograr o que aspira como condição fundamental de felicidade.
A violência porém, jamais oferece a liberdade real.
Arranca o indivíduo da opressão política, arrebenta-lhe as injunções caóticas impostas pela sociedade injusta, favorece-o com terras e objetos, salários e haveres.
Isto, porém, não é a liberdade, no seu sentido profundo.
São conquistas de natureza diferente, nas áreas das necessidades dos grupos e aglomerados humanos, longe de ser
a meta de plenitude, talvez constituindo um meio que faculte
a realização do próximo passo, que é o do autodescobrimento.
A violência retém, porém não doa, já que sempre abre perspectivas para futuros embates sob a ação de maiores crueldades.
As guerras, que se sucedem, apóiam-se nos tratados de paz mal formulados, quando a violência selou, com sujeição, o destino da nação ou do povo submetido…
O instinto de rebeldia faz parte da psique humana.
A criança que se obstina usando a negativa, afirma a sua identidade, exteriorizando o anseio inconsciente de ser livre. Porque carece de responsabilidade, não pode entender o que tal significa.
Somente mediante a responsabilidade, o homem se liberta, sem tornar-se libertino ou insensato.
A sociedade, que fala em nome das pessoas de sucesso, estabelece que a liberdade é o direito de fazer o que a cada qual apraz, sem dar-se conta de que essa liberação da vontade, termina por interditar o direito dos outros, fomentando as lutas individuais, dos que se sentem impedidos, espocando nas violências de grupos e classes, cujos direitos se encontram dilapidados.
Se cada indivíduo agir conforme achar melhor, considerando-se liberado, essa atitude trabalha em favor da anarquia, responsável por desmandos sem limites.
Em nome da liberdade, atuam desonestamente os vendedores das paixões ignóbeis, que espalham o bafio criminoso das mercadorias do prazer e da loucura.
A denominada liberação sexual, sem a correspondente maturidade emocional e dignidade espiritual, rebaixou as fontes genésicas a paul venenoso, no qual, as expressões aberrantes assumem cidadania, inspirando os comportamentos alienados e favorecendo a contaminação das enfermidades degenerativas e destruidoras da existência corporal. Ao mesmo tempo, faculta o aborto delituoso, a promiscuidade moral, reconduzindo o homem a um estágio de primarismo dantes não vivenciado.
A liberdade de expressão, aos emocionalmente desajustados, tem permitido que a morbidez e o choque se revelem com mais naturalidade do que a cultura e a educação, por enxamearem mais os aventureiros, com as exceções compreensíveis, do que os indivíduos conscientes e responsáveis.
A liberdade é um direito que se consolida, na razão direta em que o homem se autodescobre e se conscientiza, podendo identificar os próprios valores, que deve aplicar de forma edificante, respeitando a natureza e tudo quanto nela existe.
A agressão ecológica, em forma de violencia cruel contra as forças mantenedoras da vida, demonstra que o homem, em nome da sua liberdade, destrói, mutila, mata e mata-se, por fim, por não saber usá-la conforme seria de desejar.
A liberdade começa no pensamento, como forma de aspiração do bom, do belo, do ideal que são tudo quanto fomenta a vida e a sustenta, dá vida e a mantém.
Qualquer comportamento que coage, reprime, viola é adversário da liberdade.
Examinando o magno problema da liberdade, Jesus sintetizou os meios de consegui-la, na busca da verdade, única opção para tornar o homem realmente livre.
A verdade, em síntese, que é Deus — e não a verdade conveniente de cada um, que é a forma doentia de projetar a própria sombra, de impor a sua imagem, de submeter à sua, a vontade alheia — constitui meta prioritária.
Deus, porém, está dentro de todos nós, e é necessário imergir na Sua busca, de modo que O exteriorizemos sobranceiro e tranqüilizador.
As conquistas externas atulham as casas e os cofres de coisas, sem torná-los lares nem recipientes de luz, destituídos de significado, quando nos momentos magnos das grandes dores, dos fortes dissabores, da morte, que chegam a todos…
A liberdade, que se encerra no túmulo, é utópica, mentirosa.
Livre, é o Espírito que se domina e se conquista. movimentando-se com sabedoria por toda parte, idealista e amoroso, superando as injunções pressionadoras e amesquinhantes.
Ghandi fez-se o protótipo da liberdade, mesmo quando nas várias vezes em que esteve encarcerado, informando que “não tinha mensagem a dar. A minha mensagem é a minha vida.”
Antes dele, Sócrates permaneceu em liberdade, embora na prisão e na morte que lhe adveio depois.
E Cristo, cuja mensagem é o amor que liberta, prossegue ensinando a eficiente maneira de conquistar a liberdade.
Nenhuma pressão de fora pode levar à falta de liberdade, quando se conseguir ser lúcido e responsável interiormente, portanto, livre.
Não se justifica, deste modo, o medo da liberdade, como efeito dos fatores extrínsecos, que as situações políticas, sociais e econômicas estabelecem como forma espúria de fazer que sobrevivam as suas instituições, subjugando aqueles que vencem. O homem que as edifica, dá-se conta, um dia, que dominando povos, grupos, classes ou pessoas também não é livre, escravo, ele próprio, daqueles que submete aos seus caprichos, mas lhe roubam a opção de viver em liberdade.
Não há liberdade quando se mente, engana, impõe e atraiçoa.
A liberdade é uma atitude perante a vida.
Assim, portanto, só há liberdade quando se ama conscientemente.